domingo, 19 de junho de 2011

Já não me importo

Já não me importo 
Até com o que amo ou creio amar. 
Sou um navio que chegou a um porto 
E cujo movimento é ali estar. 
Nada me resta 
Do que quis ou achei. 
Cheguei da festa 
Como fui para lá ou ainda irei 
Indiferente 
A quem sou ou suponho que mal sou, 
Fito a gente 
Que me rodeia e sempre rodeou, 
Com um olhar 
Que, sem o poder ver, 
Sei que é sem ar 
De olhar a valer. 
E só me não cansa 
O que a brisa me traz 
De súbita mudança 
No que nada me faz. 

Fernando Pessoa

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